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Bocas tortas e advérbios de modo​

Expressão. Isso que faz com que um escritor seja bom. Não podemos tentar do quesito clichê, pois escrever não é novidade, o que cativa os leitores, o que nos cativa, é a sinceridade, o ato de carregar emoção no mais simples dos temas, detalhar uma situação de tal forma que nossa realidade seja completamente mudada, nem que sejam por míseros 32 minutos, pois certamente serão os melhores 32 minutos do seu dia.

Eu irei aqui relatar sobre algo que gira em torno da maioria de nós, a aclamada adolescência. Sim, eu vou escrever sobre um dos assuntos mais clichês de todos os tempos, e talvez até irrelevante se comparado com os verdadeiros problemas do mundo, porém é a fase que determina quem somos, quem seremos e como iremos enfrentar a realidade que nos aguarda.

Sou do tipo de pessoa indecisa, que não sabe de absolutamente nada (tipo Jon Snow), ontem fui tulipa e hoje sou girassol, tenho até receio de pensar o que serei amanhã. Penso demais em coisas que as pessoas não pensam, como “Por que o dinheiro é mais importante que as pessoas?” e afins, até que eu gosto das aulas de filosofia.

Me sinto (ou sinto-me, para os formais) totalmente angustiada quando percebo que utopias só nos fazem caminhar e não permitem que cheguemos ao nosso destino, é desanimador pensar que revolucionários não tiveram tempo para fazer uma maratona de séries ou arrumar uma namoradinha.

Engraçado eu falar em namoradinha, afinal eu não sei nada sobre o amor e você, caro leitor, provavelmente também não sabe. Na verdade, amor pode ser apenas outro substantivo que utilizamos quando nos faltam palavras para descrever emoções e sentimentos, são necessárias para preencher o vazio causado por algo que desconhecemos. Não é uma caracterização que encontramos de forma absoluta no dicionário, é mais correto dizer que cada um tem sua forma de amar ou sei lá o que isto signifique.

Mais complicado que o amor, o tal do futuro, conheces? Bem, eu também não, e já o temo. Tenho receio do fato de haver a hipótese, por mínima que seja, de que minha vida seja monótona e minha melhor lembrança esteja associada ao dia em que meu filho aprendeu a escrever “televisão”. Em que o acontecimento marcante do dia tenha sido o lançamento de um iogurte com tâmaras e damascos.

De qualquer forma, temer algo inexistente é como acreditar em unicórnios, nunca se sabe quando está ultrapassando as fronteiras do irreal. Apesar das intermináveis dúvidas e temores, eu tenho certeza de uma coisa, música. Se existe algo que nunca me decepcionou, este algo é a música.

Ela é, e você não poderá discordar, a melhor maneira de registrar sua existência no mundo, porque sei que nós, incrédulos jovens, não queremos ser esquecidos, não queremos acreditar na possibilidade de que nossa existência tenha sido corriqueira, sem sentido.

E para uma finalização poética, a única informação útil desse texto é: crie lembranças, aquelas das quais não se esqueceria mesmo se tentasse, cometa erros, enlouqueça, não deixe sua vida se tornar banal. Considere o passado como a junção “eu não acredito que fiz aquilo” ao invés de “eu poderia ter feito isso”. Desperdice seu tempo, intensifique, e se alguém disser que está errado, ignore, afinal somos todos bocas tortas tentando se encaixar. E por favor, não seja esquecido.

Craquelins Doubles

Dinheiro. Conhecemos essa palavra muito bem, seus significados e como tudo gira a seu redor. Quando eu era pequena, não me importava com dinheiro, só sabia que ele era meu passaporte para o mundo dos doces do supermercado. Atualmente, acredito que o dinheiro é bom, mas o meio como o utilizamos não está adepto, a desigualdade é amplamente perceptível.

Mas não pretendo focar no assunto desigualdade, supondo que já tenham noção do problema. Por que gostamos de carros e mansões de luxo? Por que uma viagem à Disney e um Iphone parecem tão magníficos? Nos ensinam que, para sermos felizes precisamos de uma casa, dois carros, dois filhos e uma televisão com imagem em alta definição. Passamos nossa monótona vida trabalhando, muitas vezes com algo que não gostamos para adquirirmos nossos sonhos-de-consumo-que-trazem-felicidade-contínua, para no final, descobrirmos que a felicidade está nas coisas simples.

Não é a casa que você mora, o papel de parede mais caro, a televisão mais moderna, são as pessoas, aquelas que te acompanham, as que fazem as memórias se tornarem lembranças. Não é o carro com diversas funções e um teto solar, é a viagem, as pessoas que cantam Oasis com você durante o percurso. Enfim, repensem os tais "sonhos de consumo", joguem um belo foda-se para todos aqueles projetos de vida pré-prontos que nos rodeiam e procurem valorizar as lembranças simples, as companhias e os chás-de-pêssego com bolachas duplas ao fim da tarde.

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Isabel, moça que não carece de amplas descrições acerca de sua aparência, seus longos cabelos negros falam por si só. Seca. Ela odeia o calor pois suas roupas grudam em seu corpo.
Vento, não o típico vento que leva as folhagens e a poeira consigo, vento de chuva, água, quanta felicidade. "Meu Deus, está realmente chovendo!" é o que seus pensamentos diziam. Chega em casa e nada parece fora do lugar.
Nem seu marido, um homem um tanto quanto desagradável, Martim, poderia atrapalhar seu (breve) momento de alegria. Cadeira de balanço, corrimão, sopa. A grama retorna a seu estado original, de um verde vívido e esvoaçante. Muito tempo, muita chuva, muita água. Isabel se enxerga tendo de lidar com a inundação que rodeava seu ambiente, seu lar.
Água, tanta água, nem os trilhos resistiram ao intenso fluxo hídrico. Isabel olha as paredes, o corrimão, recebe a sopa feita por sua madrasta de forma minuciosa. O tempo passa mas não se tem noção disso, não existem sentidos, ela apenas sabe, apenas sente, sua alma está incolor. Muita chuva, proporções bíblicas, "um dilúvio" pensa ela, tudo está desarrumado, seu pai mal existe, apenas está.
Quarta-feira, quinta-feira, sexta?, por que dormi por tanto tempo, duas e meia, mas como?, sopa com pão adormecido, gostaria de ir à missa de domingo passado. Tudo está tão calmo agora.

Correnteza

A moça não plantou uma semente. A moça retirou uma engrenagem. Ela desconjuntou um sistema PERFEITO, e, ao tentarem consertá-lo, incomodou, a engrenagem já não os pertencem mais, eles não a desejam. Eles têm o anseio de desconstruir o sistema inteiro, o anseio de um novo.

A moça é gente, como eles, não precisa se sujeitar a um sistema que não a valoriza, contudo, eles gostariam de dizer a ela que o faça, faça o que deve ser feito. Sabem eles que isto é uma afronta, não apenas um golpe lhes foi desferido, mas uma sequência deles, sabem ELES do errado, do certo.

A moça os representa, como já diz a famigerada frase "representatividade é tudo", lutam eles por ela, assim como ela o fez. Esperam que ela não fique preocupada, pois a luta não terminou, muito pelo contrário meus caros, ela acaba por começar. A moça tirou a engrenagem. A falta dela tirou a moça. ELES querem apenas uma delas de volta. Eu, sem qualquer advérbio de modo que me salve do simplório, espero que a insatisfação da moça quanto ao meu trabalho nunca termine.

silêncio

Sozinha. Aquele silêncio a devora. Permite. Sempre permitiu. As batidas sincronizam, e o silêncio dança. Dança ela com ele, naquele sentimento eternizado que eles, e apenas eles conhecem. O mundo inteiro gira, e o silêncio retoma sua história, por ela já conhecida. Como estar perdida na própria lucidez, desvencilha-se do conforto dos grilhões. Vá embora! Deixe que ela voe! O silêncio permite. Sempre permitiu. Com o almejo tão esperado, o sopro do real transborda sua alma, acaricia seus cabelos, o anseio do desconhecido a chama pelo nome. A proximidade já recebida. Caem os grilhões penhasco abaixo. Ele a observa mergulhar em direção ao conforto de estar. Não muito tempo depois, está ela a ouvir a história já conhecida. O toque suave de seus velhos amigos já a pertencem novamente. Algum dia, a música há de tocar novamente. Anseiam eles pela próxima dança.

mulheres

Como és forte
Tanto suporta, garota
Fardos invisíveis
Cortes, profundas poesias
O cotidiano os salteia 
Assim a garota nunca poderá mostrar toda a sua grandeza
Maquia-se com o melhor sorriso
Porque os outros merecem o seu melhor
Eles não vêem as lutas
Não vêem as cicatrizes
Acarretam em si uma beleza incomum e radiante
A fazem enlouquecer em pensamentos
As carregue, garota
Porque elas são a complexidade de seu universo
Que sejam sua força
Que a liberdade te transborde, garota
Existe alguém que vê
Alguém que reconhece o quanto és 
Porque dentro de si carrega um universo inteiro 
Sua alma é muito mais do que poesia
A poesia é você estar aqui
A poesia é ter você aqui
Para que um mero telespectador
Possa se orgulhar ao dizer
Que admira profundamente o seu universo

Para muitos universos que tive a honra de conhecer.

O CONTO. DESCUBRA-O.

Ela gosta tanto de ir ao parque. Gosta de conversar com seu irmão sobre a possibilidade de serem abduzidos enquanto apreciam uma xícara de café. Gosta muito daquela risada escandalosa que só as pessoas mais próximas a ela têm o direito de ouvir. Ela gosta tanto daquela camisa xadrez surrada que a faz lembrar quem ela é, e quem será algum dia. Gosta tanto daquela amiga excêntrica que a faz querer viver. Não sobreviver. Não existir. Viver.

O CONTO. DESCUBRA-O.


Levantar é tão exaustivo. Essa dor latejante se arrastando por dentro da minha cabeça, mas que merda. NÃO ABRA A PORRA DA CORTINA! Quem é que ainda vai ao parque? Eu não quero café. Deixem-me em paz. Não faça piadas, não quero que ninguém ouça a minha risada, pessoa número dois. Essa camisa imunda me deixa mais horrível do que aparento, apenas a jogue no lixo, pessoa número três. Qual é a graça de ir ao parque? Eu nem consigo me lembrar do que me fez achar que sair seria de longe algo excitante. A pessoa número quatro nem se deu ao trabalho de perguntar se estou bem ou não, ela não liga para ninguém além dela. Eu não tenho motivos para continuar existindo. Sobreviver é exaustivo. Desligue o rádio, essa música é péssima. NÃO, eu nunca gostei dessa banda! Viver tem sido um fardo.

O CONTO. DESCUBRA-O.


Uma pessoa maravilhosa. Os fazia rir. Os fazia querer viver. Não sobreviver. Não existir. Viver. Uma hora, num dia, numa semana, num mês e num ano, tudo lhe foi tirado, não que a forma como fora feito tenha sido revelada, ela, um dia esperançosa por algo além do visível, reciclou. Suas idas ao parque nunca foram obrigatórias. Foram recicladas. Conversar é fatigante, seu irmão não parava de falar. Reciclou até o aroma que impregnava sua camisa xadrez surrada. Sua risada não precisava ser ouvida, não faria diferença na vida das pessoas números x e y. Acabou por reciclá-la também. Uma vez tudo se tornou reciclável, inclusive suas pessoas favoritas. Pessoa número dois aos poucos foi parando de se importar com as conversas. Pessoa número três foi traçando a linha tênue de uma falsa relação. Pessoa número quatro continuou vivendo, mesmo sem a sua risada escandalosa para tempestuar o diário. Depois que nada a agradava, pessoas e coisas eram recicladas, optou por reciclar a pessoa número um. Tolice. Tudo se tornou cinza quando sua risada deixou de ser ouvida. 


O CONTO. VIVER. SOBREVIVER. EXISTIR.

Parte 1

É um ano que novo que está por vir. Estes textos se tornam difíceis, pois o tudo muda em um ano, e o nada, por (in)conveniência, também o faz. Em consonância a isso, conhecem eles o melhor das piores existências.

Como diria uma deles, universos. Tantos infinitos universos, que os fazem crer no real e irreal. Dizem eles que é o mais próximo que chegam da magia. Mesmo com a excitação do desconhecido, cultivam eles velhas relações, fixas de tal modo a se tornarem componentes da alma. 
Amam e odeiam junto a eles. Aquele complexo mistério de se sentir parte de algo. Uma corrente de mãos invisíveis que se apoiam, em meio ao todo ruim que os rodeia. Mentes entrelaçadas, como numa confusão artística de tons e traços. Que as relações tenham se tornado agregados de amor ira loucura e vida, como queridos livros, empoleirados numa estante qualquer. 
Neste ano, em que viram, em meio a tanta merda, pessoas lutando, lutando para mudar melhorar e sentir, sabem eles, então, que existe. Aquela chama, pequena, mas constante, que os maravilha com seu movimento intenso e crepitante. 
Dentro deles, este algo maior e flamejante, que os chama pelo nome, mesmo alojada numa pequena caixa de conveniências sociais e históricas. Alguém pede que permitam a si mesmos enxergar, não ver, enxergar o que precisa ser mudado melhorado e sentido. Que se preparem. Irão chacoalhar o mundo.

Parte 2

Que os acontecimentos deste ano, tanto bons quanto ruins, tenham os levado ao pensar, o ato que os torna um caso de perigo para os que gostam de onde estão. Que os lamentos não tenham sido em prol da imagem, mas em prol da humanidade. Que ampliem eles a corrente. Para a Síria, Haiti, Índia, Turquia, México, Colômbia, Brasil. 
Lutar é movimentar. "Movimento é vida", disseram eles por aí.
Que sejam eles a melhor versão de si mesmos, alguém estará mais que contente por isto. Que se permitam. Que façam eles as coisas valerem. As experiências. As histórias. As lembranças

Sem ponto final para um texto que continua sendo escrito por todos nós, da melhor e mais intensa maneira possível,

Por um 2017 que movimente universos.

Nudez, energia e framboesas

Eu pensei muito pra isso.

Coloquei a música que sou no momento.

As pessoas falam e eu adoro isso. Pessoas falando. Elas me contam coisas e a cada coisa nova eu as descubro, e vou me descobrindo um pouco também.

Minhas teorias vão virando algo mais vazado. Como a arte que escorre do meu universo.

Quero me amar até minhas estrelas brilharem. É isso que estrelas fazem. Elas brilham.

Não me atenho a um universo. Não fico estagnada. Viver é movimento. Movimento é vida.

Procuram alguém para olhar e espelhar. Procuram alguém por mero afeto. Para completar e não para que admirem um o completo do outro.

Procuro jornadas. Alguém que vire música comigo. Que um dia sejamos água terra ar e fogo.

Procuro queimar de dentro pra fora. Respirar fundo. Conhecer o desconhecido. Sentir como se fosse sempre a primeira vez.

Não ser melhor. Ser o que sou. Um fluxo. Faço parte de um fluxo flamejante que me leva nesse movimento contrastante.

Esse fluxo me leva a novos corpos que são lares cheios de cicatrizes. Cada novo universo me leva a pensar. Que caiam os grilhões. Quero estar nua de alma.

Vou correr por aí. Serei vento e música. Por mera curiosidade me jogarei ao desconhecido. O mistério de olhar para o horizonte.

Sou energia. Somos energia. Estamos vibrando. Mudando. Enlouquecendo. Tudo é energia.

Eu não morro. Saio desse corpo que chamo de lar cheio de cicatrizes e me junto ao fluxo. Torno-me água terra ar e fogo.

Saio desse lar e viro música.

Provável que não seja um charuto

Não preciso saber
Talvez não queira
Não sou obrigado
É uma lista
Não ser redundante
Escrever um email para Viviane Geribone
Não ser um usuário regular de frases curtas
E desconexas 
Abacaxis pegando fogo
Variar meu gosto musical
Sentir mais
Saber o que o grande “mais” significa 
Um Grande Talvez
Lavar toalhas de rosto e estendê-las desordenadamente 
Não escrever listas
Beber água filtrada com frequência pré-determinada 
Precisa saber
Talvez queira
É obrigado
Ler cartas melancólicas
Colocar a soja de molho
Fazer piadas inteligentes
Rir quando digo a coisa certa
Rir ainda mais quando digo a coisa errada
No final
No começo
No meio
Sei lá.
O que pontos querem dizer, afinal
O que esse “mais” signfica
Não sei e não sei
Pensar pouco antes de agir
Agir depois de pensar muito
Todo dia viro algo novo
Vai se foder que isso não é poesia
Não é inspirador
Não é uma lista
Talvez seja redundante 
Sei lá
Nem sou um exímio escritor
Nem exímio
Nem escritor
Escrevo para respirar
O que respiras tu?
Não sei e não sei
No meio
No final
No começo
Sei lá de novo.

Das cartas de um a m o r, ridículas

Talvez eu não seja boa com cartas. Mas estou escutando uma música tão foda que talvez nem precise ser tão boa, aliás, a música é “Midnight City”, da banda M83. Tenho dançado bastante, como sempre, e tenho feito aulas de arte circense. Sou péssima nisso, mas vejo certo progresso [ou não]. Até que minhas notas estão boas, não vou pegar nenhum exame e estou particularmente orgulhosa de um relatório de história da qual escrevi e fui elogiada pela professora. Estou planejando cantar no show de talentos, e isso é algo relativamente novo, porque nunca tive coragem de cantar em público. Acho interessante lembrar que estou participando do MSL [Movimento dos Secundaristas em Luta] e estou sendo encaminhada para o Coletivo VOE! Além disso, terei que fazer uma fala numa assembleia nesta quarta-feira, acerca das ocupações que estão ocorrendo [também irei fazer um adendo a respeito da PEC 241/55 e da MP 746], e devo confessar, estou tremendamente nervosa com isso, mas sei a importância que essa simples fala tem quando se trata da conjuntura política atual, então irei me esforçar. Não encontrei nenhum anarcopunk suficientemente interessante para trocar uma ideia e algumas músicas, então, nesse quesito, continuo na mesma. Neste momento, estou escutando “When I Grow Up”, e caralho, como essa música é boa! Eu deveria ter escrito antes, várias vezes, te entupido de cartas falando das diferenças entre híbridos e vampiros imortais, entretanto, não o fiz. É bem difícil contar tudo o que aconteceu neste ano, porque muitas coisas aconteceram, eu mudei completamente, e a parte positiva é que acredito que tenha sido para melhor [será?]. Descobri que gosto de ajudar pessoas, seja com conselhos, músicas, resumos de geografia ou mesmo abraços. Não consigo deixar de pensar em quantas coisas eu posso fazer [talvez as possibilidades me assustem um pouco], e imagine quantas músicas eu ainda posso escutar! Devo contar que passei por uns maus bocados, porque descobri, em meio à confusão de estar nessa linha de metamorfose ambulante, que tenho depressão, ansiedade social e insônia. Eu diria que não é impossível sobreviver com depressão, mas eu ainda me pego questionando se estou realmente vivendo a fase que tantos chamam de “a melhor fase da sua vida”. Não sou boa com elogios, mas eu diria que você foi a primeira pessoa a me escutar, de verdade, a primeira pessoa a ver o quanto eu poderia ser, e isso marca. Isso define. Isso transforma. Estou lendo Bakunin e Marx, terminei de ler “Cem anos de solidão”, e tenho uma lista gigantesca de livros que merecem ser lidos. Dirigi um curta-metragem esse ano e apesar de ter sido baseado em zoeiras [é, tem uma crítica ácida, mas poucos irão notar], me diverti muito no processo, até porque tive que atuar e editar também, e nossa, como isso dá trabalho, mas o resultado é de sorrir até os lábios pedirem clemência. Quero aprender a tocar piano e começar a fazer teatro, mas sei que terei menos tempo ainda ano que vem por causa do Enem, mas vou dar um jeito. Ah, e falando em Enem, na parte de humanas, no primeiro dia, eu fiz 32 questões [das 45], o que me coloca no grupo das amantes de literatura, certo? Desculpe por estar cuspindo histórias sobre você, mas é que tem muito tempo desde que nos vimos pela última vez, e não quero deixar nada de fora! Decidi esse ano que quero cursar dança, jornalismo e cinema... Sinto que nasci pra isso, mas acho importante lembrar que quero usar esse conhecimento para fazer algo maior, bem maior. Ainda não tenho certeza do quê, mas vou descobrir e quando isto acontecer, você vai pensar “E não é que essa anarcopunk viciada em vampiros fez isso mesmo?”, então estaremos tomando café, com a minha mãe e a Cláudia, e vamos falar sobre política e filmes do Tarantino. Disseram-me que sou boa com as palavras, mas eu diria que elas que são boas comigo. Em meio a tudo e nada, foram as palavras que me acolheram, elas me deram força, e eu as escrevi, com a força que tinha, como estou fazendo agora. Vou te mandar meus textos, realmente espero que goste deles, são uma parte bem importante de quem eu sou e quem me tornei. Já vou alertando do quanto melancólica e literária consigo ser nos textos, mas já escrevi acerca de muitos temas mais concretos, por assim dizer, como a redução da maioridade penal e o capitalismo. Está tocando Milo Greene [música: “1957”] agora, então é hora de dizer o quanto você é incrível, porque é o pai a mãe a amiga e o irmão que minha mãe nunca teve ao seu lado [digamos que nossa família não seja lá das melhores...], apoiando, orientando, aconselhando, encorajando, isso fez e ainda faz toda a diferença na vida dela, e fico grata por isso. Quero que você me ouça cantar algum dia. Quero que você me veja dançar algum dia, que me veja atuar e que veja algo que eu dirigi também. Quero que leia meus textos e faça suas piadas brilhantes.

Não.Vou.Usar.Termos.Belos.E.Poéticos.Porque.Somos.O.Caos.

O “eles” sempre foram vocês. Nós. Somos o “eles” que tanto é e tanto faz. Sempre mantivemos as aparências. Desde o primeiro dia em que nos vimos. Aparências. Mostramos nossas qualidades e o bom. O apreciável. Fizemos da nossa convivência um legítimo show. Estamos mais pra cá do que pra lá agora. Eu preciso da nossa realidade.

Tudo.Se.Torna.Um.Escape.

Mudamos tanto. Sempre em movimento. Sempre em frente. Sempre a mesma coisa. E se eu quiser aceitar o quanto tudo parece errado e o que sai da minha boca soa amargo? E se eu precisar do tempo o tempo todo, o que há de errado?

Falem o que precisa ser dito. E se eu me sentir um lixo, preciso de autorização para tal sentimento? E se eu estiver desmontando por dentro, tentando continuar o show que não pode parar? É o meu teu nosso direito. Respirem fundo. Estamos no começo e o show precisa respeitar.

Eu escrevo porque é esse o meu abraço. Um texto dos abraços. Um texto do desmonte. Porque eu me sinto perdida e talvez você não possa mudar esta condição. Talvez eu não queira que você saiba “quem” e “por quê?”. É esse o meu abraço a quem precisa. Estamos todos sozinhos quando o dia acaba. O que parecia certo se torna um peso quase insustentável. Mesmo que pareça piada. Mesmo que de você só saiam risadas enquanto lê isso. É o meu abraço a quem precisa. Você é tão forte quanto. Você é forte porque vemos em seus olhos. Do jeito que for. Do seu próprio jeito. O tempo é seu e sempre foi. Use-o como desejar. Eu estarei aqui com as palavras... Num abraço.

sonho/1

Pediram-me palavras. Estão aqui como sempre estiveram sendo escritas conforme meus dedos dançam sobre o teclado cor de ébano, mas tão cheias de uma coisa-que-não-tem-nome-nem-forma que.

E então a frustração de tentar e tentar e tentar e simplesmente não saber o que dizer nem para quem dizer. A súplica trancafiada nos menores atos. Nada vai mudar então não procure uma luz no fim do túnel procure os desenhos escondidos as histórias apagadas pela erosão e pelo tempo e pelas pessoas e por outras histórias e procure e procure.

E então pare de sentir porque sentir tem sido

Converse no ônibus e quebre as unhas e rasgue o vidro por sentir outro universo, ressoando a própria energia ao nada. Observei estranhos pelo reflexo da superfície de areia e apenas fiquei ali e existi e existi mais um pouco

Li e reli as palavras juntas no texto enquanto dançam e o quanto sou massiva enquanto tento não ser aquela que não quer ser compreendida nem ouvida apenas dizer o tudo que não significa nada.

Alguns morangos mofados algumas tentativas não falhas ao teu ver e completamente desastrosas ao meu porque não sabes, e não, tu não sabes o que tem aqui e é provável que nem queira porque estamos todos atrás daquilo que não tem nome nem forma mas sabemos que está em algum lugar dentro do túnel sem luz ou

Faltam pontos e vírgulas no papel porque não tem pausa nem fim só segue e segue e seguimos todos juntos sozinhos escolhendo bancos no ônibus e arroz integral ou branco tipo 1 e essas palavras não significam nada pra ninguém e está tudo bem.

Seguimos correndo surtando procurando histórias e desenhos enquanto tentamos desesperadamente não apenas existir e sim transcender o túnel sem luz que agora nos

Não estou surtando e existir não é bom nem ruim apenas é. A súplica em menores atos. Pessoas recicladas. Charutos e histórias de sopas e cafés e sonhos

O show. O show precisa continuar a translação continua a morte e a vida continuam e continuamos e esse ciclo interminável de vai passar e vai melhorar e vai mudar

Isso é real, agora eu te pergunto

Isso é real?

Nossa arte é uma merda

Dos textos curtos. Dos que escondem o que podem da pior maneira possível. Dos que eufóricos, riem com outras felicidades. A minha arte é uma merda.

Nem um charuto. Nem um texto. É a arte que também é merda. Somos todos nós agora, no plural e no presente, enquanto o tempo ainda nos permite. A frustração é pensar. Pensar sobre pensar. Penso em quanto estamos sozinhos de tanto pensar na solidão.

Lembranças na memória e na caixa azul estrelada. Porque algum. Os ácidos grilhões da mórbida melancolia. Lembrar é prisão. Pensar em lembranças é manter o passado aquecido. A questão... [Respirar]

Somos capacitados a viver por sua causa. Inconstantes metamorfoses que derramam em nós a arte que respira. Que sejamos aquela que vira música e vento.

Desde que sua merda de arte te permita respirar. As pequenas liberdades. Quem sabe somos nós, no plural e no presente, arte. Os produtores. Os criadores de lâmpadas e sinfonias. Somos arte em movimento porque pensamos em sua existência. Somos a arte que produz a si mesma para respirar. Somos futuras lembranças do que faremos no amanhã. Nossa arte é uma merda. O que somos? [Respiramos]

Poesía en la ciudad

En la ciudad en que vivo

Hay mucha prisa

Pero hay pocas flores

En la ciudad en que vivo

Muchos tienen precios

Pero pocos tienen algún valor

En la ciudad en que vivo

Veo tiendas y ofertas

Pero no puedo ver las aves

En la ciudad en que vivo

Él trabajo importa más 

Do que las personas 

En la ciudad en que vivo

Hay mucho ruido

Pero no hay musica

Childish Gambino

Pessoas são mais do que pensamos achamos e concluímos. Como se houvesse, impregnada na alma, uma biblioteca de frascos cristalinos e instáveis, que provocam dores sutis e amores ácidos àqueles que arriscam visitá-la. Porquê as trancamos e guardamos no mais profundo dos abismos, eu não sei, talvez a história nos mostre as consequências da intensidade humana. Ando flutuando, apreciando os detalhes, sozinha e lúcida, "fodida mas sagrada", como espera o poeta. O poeta há de elucidar minhas veias, bem como são, ansiando por conexão. Aqueles que não aspiram falsa sobriedade entoam: "Que fiquemos bêbados de amor e entremos em coma pela paixão crepitante de nossos universos".

Lúcia, a Lúcida

Lúcia comprava muitas canetas. Numa terça-feira chuvosa, na volta para casa, após outro dia distante e distorcido, ela avistou uma lojinha charmosa parada no tempo.

O caminho se exibe e promete a ela letras e cores, e ela o percorre com ensaiada leveza. A porta entreaberta a convida para um jogo de histórias, do qual Lúcia aceita sem vírgulas ou reticências.

- Conte-me sobre sua vida.
- Eu compro canetas e flutuo.
- Como um humano pode flutuar?
- Como uma porta pode jogar histórias?
- Você conseguiu me pegar, humana, contudo, quero que saiba que não as jogo, esta é minha fachada para pedí-las. 
- E por que optou por pedí-las? 
- Portas não têm histórias. Nos contentamos com humanos as dividindo conosco, é o mais próximo que temos de flutuar.
- Acho que portas têm histórias. A diferença é que vocês não podem comprar canetas.
- Você gosta de flutuar, humana?
- É como ser o único ponto focado em uma fotografia de humanos. 
- Maldita Lucidez.

Lúcia acordou sentindo todos os músculos do corpo, com um livro no colo, e uma caneta na mão.

Delírios de uma pré-leitura

Sempre acreditei na chuva. Definitiva e alarmante. Quando chove, fazemos as coisas que deixamos para amanhã há muito tempo. Coisas da mente, da alma. Dançamos. Sempre acreditei na força da chuva.

Sinto-me estagnada. Pela primeira vez, as palavras não me acompanham na etérea sincronia do sentir. Estou só e cheia de [vida]. Sucumbi ao vício e à facilidade de bloquear. Li em algum lugar que todos somos artistas; uns criam obras e outros criam momentos. Hiato da arte para meus próprios momentos.

Este esboço será esquecido assim como todos os esforços não vistos para mergulhar no cosmo de outro universo. Os detalhes me mantêm viva. Os seus sugam a força e cativam como chama crepitante. Obrigada pelos momentos e pela arte compartilhada. Vais embora dos pensamentos, mas conseguiste eternizar sentimentos, estes que ficam até que meu nome se junte ao vento e à música.

Cartas de um sentir inválido II

São 9h59min. Dancing in the Moonlight, do Alt-J. Por não ter sido a melhor amiga que eu poderia ser, desculpe-me, imagino que tenhas pessoas incríveis na tua vida, bem, eu espero que tenhas. Tô sempre vacilando e olhando para o céu. Não faço merda nenhuma e quando faço dá merda, tenho essa sensação, por sinal, tenho essa sensação com todos a minha volta, mas tudo bem. Palavras não vão valer por minhas atitudes [mas escritor é tão desgraçado que escreve sobre essas merdas da vida, sem ao menos respeitar a história por completo]. Não escuto Bowie há muito tempo, mas sempre que me vem a mente, é teu nome que o acompanha, é aquele desenho que guardo no portfólio e na memória, são as palavras ruins que escrevemos, as músicas que compartilhamos e os sufocos. Penhascos, desfiladeiros e outros sonhos de fuga [parte um]. A música não é tua, o momento é. Feliz com aquela vírgula escondida de tudo que não deu certo. Te ver sorrir seria ótimo [ver-te é um verbo de merda]. Te ver usando colares da Polly Pocket seria ótimo. Te ver sendo e criando arte seria ótimo. Te ver seria ótimo. Dormimos no cinema. Os outros três aguentaram até o final. Foi um bom filme, assisti em casa um dia desses. Nada de príncipes ou garotas de cabelo cor-de-rosa suicidas. A força da protagonista está, além de em si mesma, nos companheiros e na energia que ronda por aí. Que tu enxergues a força que tens aí dentro. Que enxergue a beleza dos detalhes, dos contornos e das linhas tortas. Morrer agora seria não mais acompanhar o voo dos pássaros, o suave e definitivo movimento das asas, liberdade rasa. Morrer agora seria não mais observar o céu e os cemitérios das cidades pequenas cujos nomes não me recordo. Seria não mais escutar música sozinha e acabada no quarto questionando os porquês. O dorso da baleia solitária. O peso de histórias alheias sufoca o presente. Quais eram nossos sonhos cinco anos atrás? Não há um jeito de terminar. Não há nem mesmo um jeito de engolir minha dramaticidade. Desculpe-me por não ter estado ao teu lado quando... Todas as vezes em que eu deveria ter estado.

Cartas de um sentir inválido I

Tentei. Olhei para o céu e lembrei-me de ti. As nuvens ondulam e suavizam o azul massivo, do jeito que gostas. Encontrei-te em cada detalhe sufocante. Música me lembra do teu corpo em movimento. Movimento brusco; sinto energia se esvaindo pelas extremidades. O céu novamente. Por tua causa o céu é poesia em tela azul a ser pincelada por detalhes que, com atrevimento, guardo na mente para futuras conversas roteirizadas; jamais aconteceram. Olho para o azul massivo em busca do refúgio que nunca tive em outro universo. Apego-me às fotos que eternizam contos entoados por seres feéricos nas esquinas esquecidas pelas paredes bem pintadas. A dança sutil de uma sacola plástica lembra-me de ti; inconstância que rege o movimento. A insustentável leveza do ser. Os bêbados que falam amor e sobre ele nada sabem. Obrigada pelos detalhes. Obrigada por compartilhar o teu sentir. Falhei ao dizer que estavas no passado; minha alma te quer por perto. Os detalhes têm me sufocado; teus contornos vêm a mim como brisa da meia estação. Falamos do vento e do fluxo. “E se, quando morrermos, nos juntarmos ao fluxo e ao vento?”, eu disse. Sem resposta, lembro-me da sensação de ser inteiramente compreendida por segundos não contados. Senti o peso de te ansiar.

Não te amo.

sona

estou no consultório agora. passei grande parte da noite assistindo dramas coreanos. aqueles repletos de romance barato. comecei a gostar de assistí-los quando a consistência hollywoodiana de jennifer aniston passou a me entediar. previsibilidade calculada. criamos uma tendência de comportamento. somos tendências. criam-se tendências biológicas. esfriam-se os motores. criamos algo só nosso. seria isso liberdade escondida ou prisão mental? quando o tumor é muito grande, parece não haver muita esperança. a dor está nos sussurros. as enfermidades da carne abalam tendências. e as tendências necessárias? ações calculadas não te machucam a alma? e de tanto espectar histórias alheias, as palavras me controlam na penumbra do meio dia. não te machucam as dores da burocracia? as incertezas são tantas. talvez esta, a única certeza. dramas coreanos me servem de refúgio para o verdadeiro sentir. começam numa situação de convívio obrigatório, e disso surge paixão. a do tipo barata.

do fogo

acampar foi uma experiência intrigante. sempre tive real interesse no intrigante, nas experiências e na necessidade criada das palavras em se entrelaçarem aqui e lá. sinto como se não respirasse há meses. o caos incessante no coração que o bombeia como sangue; consome a boa brisa sem julgar rostos conhecidos. se sou Saramago tenho feito errado e a angústia pareia com pontos vírgulas e parágrafos curtos, Christie não amaria o mistério do que não sabe ser e Galeano vaga mundo acima em busca das crônicas

do fogo.

apineia

sinto ter feito coisas por conveniência. sinto as veias entupidas por estas porcarias fritas e enlatadas. sinto o peso do passado que não é meu. um vazio universal. sem fragmentos de baby thompson incrustados na pele como diamantes nos relógios de nome admirável. carrego contos sem heróis a serem entoados por vozes alheias. o Aperto e um Beijo que deve sem saber. se Manx sobreviveu vesgo atropelado baleado desrabado até seus pulmões pararem, nada tens a temer.

do diabo dizem: anjo caído invejoso e ganancioso; diabo é câncer que surge de mansinho e devora fôlego para risadas descabidas, é o texano magnata do petróleo cuja risada perfura solo, depravada.

chuva traz história em cada gota que bate no vidro da janela; serve de arranjo musical para delírios da mente. mais se sente o peso de não sentir nada com aquele quê dos dias em que tudo se sente.

"toca na mão e espera o formigamento". porra, não dá pra descrever o amor e o formigamento porque eles podem ser invenção hollywoodiana e na verdade gente só quer fazer uma coisa que pareça coisa de gente.

quer dançar pra sempre. a vibração é única. escrever para não enlouquecer. dizem que enlouqueci de tanto escrever. então dança com as palavras e as memórias que lhe rasgam as vísceras.

thelema: faz o que tu queres pois é tudo da lei. se não, faz por fazer, serão aniquilados.

ele disse isso com ações uma vez. gato livre; coração sucateado. poderia rir, seria por maldade e não vontade genuína.

um dia será Sona, Nora ou Eleanor. vais esquecer dois nomes que fizeram tudo ao contrário. lembre-se dos outros dois; que estes encontrem o que precisam.

felicidade de boêmio se paga com cerveja; felicidade de escritor se encontra e se perde para que continues escrevendo subjetivas desgraças.

como morrem os pobres: baleados, sem nome e sem mão. sozinhos num quarto de hotel feito Nikola Tesla; nem mesmo inventores escapam do esquecimento. presos políticos jogados no rio da Prata por bichos humanos.

morrem torturados pela escravidão e pela ditadura e pelo peso da própria miséria, não transmitirei, portanto, o legado de minha miséria, como disse Machado de Assis.

as Capitus sofrem males do corpo e da alma; bruxas queimadas pelo atrevimento de Eva, que surgiu das costas de um homem. só queriam liberdade pra cabeça.

espere e veja: formigamento é a ânsia do corpo em conectar-se ao universo.

encanto da vida simples entre pastores

samadhi. akai ito. trindade. lótus. sobre estar em constante mudança. todos os planos que deixamos para trás. mapas circulados. listas. meu bem, continuamos vazios e flutuantes. amigas do passado. datas importantes que perpetuam ecos da mente. desmonte-se de dentro para fora, que de ti saiam borboletas poesia e café [coca-cola para os não adeptos à cafeína]. saudade que machuca a pele. anseiam a morte que é incerta. e a vida que é temporária [tudo é] a gente teme. estamos sozinhos [não podemos simplesmente ficar juntos?]. todos os planos esquecidos me deixam apenas a culpa. outro dos fardos-invisíveis-que-não-descolam-da-memória. amamos com intensidade. é válido estar triste então ESTAMOS TRISTES e não deixamos de amar.

registro oficial da necessidade humana de respirar livremente

das dores pequenas, questionei-me a pior. acordei aos prantos por uma lembrança que ficara no passado. costumava-se escutar histórias exageradas dramatizadas e encenadas. há de ser a única com o veredicto que permanece mecanizando roteiros de vida.

ira que consome; tristeza que abraça

das palavras que trouxeram desconforto ocasional e alegria, permitiu-se sentir a rigidez da frieza; calculada e definitiva; visceral e nauseante. histórias pequenas. abandono e traição.

deixou aqueles que a amavam. agradecemos a preferência. volte sempre. magoou aquela que tanto a queria por perto. talvez o corte mais profundo; salteado pelo tempo. lição remanescente de não confiar. imperfeitos universos de sorriso sincero no rosto.

dor tão pequena, tampouco enxerga-se tal qual placas distantes do destino. por que neles encontraram um meio para seus fins? não te vieram memórias celulares? não te vieram os fardos invisíveis?

foi embora sem deixar bilhete nota ou carta. a criança agora sozinha no mundo. questiono-me se neste caminho houve felicidade. sabe-se de casos e casos. carros indecentes e conversas luxuosas. questiono-me ainda se haverá felicidade.

sem avisar amigos e parentes. sem beijar a garota com cabelos de cor obsidiana. talvez tivesse morrido pensando nela. lapsos das incertezas que seriam naquele momento o que há de definitivo. sobre a dor pequena do arrependimento; da que trazem a si mesmos.

das dores pequenas que causei. aquela que trouxe amor e movimento. felicidade de fazer parte de alguma coisa. pertencer. mudanças repentinas no cursor e acontecimentos de catástrofe. sobre famílias que se vão.

sorriso verdadeiro. das pequenas dores que nunca deixam de machucar. quatro anos não podem ser apagados, desintegrados por um buraco negro. foram anos de sorrisos verdadeiros e mudanças repentinas no cursor. anos de não abandono.

a dor faz o que faz de melhor e continuam-se as encenações. o teatro está lotado. o show precisa continuar.

tudo é temporário, me disse uma vez. conto com isso, na verdade, não te disse, mas quis acreditar com todas as minhas forças que tudo há de passar, seja tristeza ou não.

das músicas que cantamos juntos. era aquela a dor heterogênea de não ter feito o que se queria. tentativas do desastre; armação do medo genuíno. cartas amassadas ou talvez intactas na caixa azul estrelada.

das conversas na escada. último ano. mudanças repentinas no cursor e tua presença alarmante. tua risada escandalosa. seriam essas as dores que causamos a nós mesmas? causamos uma a outra? o que sei de ti agora são histórias empoeiradas, falas reproduzidas e lobotomizadas. o cigarro ainda te tira a vida do peito. das drogas que aceitamos.

acidez de dores que continuam aqui. peço-lhes a misericórdia da efemeridade.

povera

às vezes é assim que tem que ser. o labirinto de dédalo na moderna sociedade líquida. um labirinto longo sem pausas ou encontros. seres andantes pelo chão arenoso enquanto não observamos o que está a seguir e certamente nunca deixamos de olhar o terreno já descoberto. neste momento percebo, em meu trajeto assimétrico anguloso disforme e oscilante, as dores da vida. as dores de dentro. daquelas que doem tanto que os olhos incham de tanto. daquelas da solidão.

da alma restam-lhe frangalhos. a fatiga impregna o que costumava ser um vislumbre da boa energia. a indecisão mata no labirinto. a falta de propósito. mata lentamente. corrói nos ventos de falsa calmaria. às vezes tenho certeza de que estamos sozinhos e esse é o fim. sempre sozinhos. tudo acontece e você está sozinho. é a palavra repetida pelo labirinto para que possamos nos dar ao luxo de fraquejar. os mais sensíveis são os mais afetados. Galeano quem disse.

são os que mais sofrem. caem como todos caem. sair da inércia não é tão simples para todo mundo. a tentação é deixar-se levar pela existência de outros universos. orbitar. o sopro da liberdade é tão falso quanto o sonho americano. seria legal mandar o super trump ir para o inferno, mas ele está na ala vip do labirinto. aquela sem obstáculos e armadilhas. os meros grãos de areia continuam a vagar [sozinhos, sempre sozinhos].

de dentro os silêncios acumulados e cicatrizes auto infligidas. o escape da dor que se agarra às boas memórias. a sobressalente promete vida nova. escárnio no tom de voz é ignorado e aproveitam-se os milésimos da inexistência do sentir. grilhões. alto preço a se pagar por um bocado de nada. olhares compulsórios adiante fizeram com que quisesse acabar com tudo. limitou-se às pequenas dores para calar vozes maiores. no fim, você está sozinho de novo. sempre sozinho.

é o que entoam as vozes maiores. encontrei-me numa via sem saída sem retorno sem sinal sem

você está sozinho de novo.

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inevitável e real; não seja esquecido.

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